03 & 04

FRACASSO & TRIUNFO

Caso recente, está nos jornais. Empresário, bem-sucedido, dono de um centro gastronômico conhecido. Um vitorioso, com certeza. Até sair algemado do restaurante depois que a fiscalização da secretaria de saúde encontrou algumas dezenas de quilos de carne estragada armazenadas no frigorífico. Isto é fracasso.

Na fala coloquial, usamos sucesso/triunfo e insucesso/fracasso de forma, no mínimo, confusa. Tratar estes temas foi uma das etapas mais difíceis deste trabalho. Tive que reescrever algumas vezes este e o próximo capítulo e mesmo assim não estou seguro de ter deixado claro o que penso. Entretanto, a decisão de incluí-los no projeto final se deve à relevância que esta questão tem para a decisão de alguém tentar ou continuar a tentar fazer vingar um projeto qualquer. 
O ambiente de negócios é competitivo, com certeza, não como em uma competição esportiva onde existem regras fixas e claras, tempo, distância e/ou alvo pré-determinados e, principalmente, competidores conhecidos e identificados. Na prática normal dos negócios (não em leilões ou licitações), não há vitória. Existem apenas ganhos que o deixarão melhor, mais competitivo, que o dia anterior, e a repetição destes ganhos gradativamente irá aumentando a dimensão e abrangência de sua atuação. Na atividade corriqueira, normal, uma empresa não tem que vencer uma outra competidora. Não há primeiro, segundo e terceiro lugar. A competição é pela preferência do Cliente e, neste cenário, cada uma por si pode ser bem ou malsucedida, umas mais, outras menos, mas é sempre em relação ao mercado consumidor e não em relação à concorrente. Concorrem, todas, portanto, por pedaços de queijo e normalmente há queijo[1] para todos.
Refletir sobre estes temas pode nos tirar desta espiral de busca interminável pela vitória que a competição globalizada insiste em nos manter. Pode nos libertar desta idéia geral de que só há prazer, só há felicidade, para quem vence, para quem derrota um ou mais adversários.
No mundo contemporâneo dos BBBs, a competição é pela atenção das câmeras, o caminho para ganhar valio$o$ segundos de exposição para uma audiência nacional. A fama a qualquer preço é a tarefa proposta na gincana disputada por equipes do “eu só”. A busca é por celebridade, por mais etérea que seja, porque a fortuna é dada como recompensa certa. A intimidade devassada (falsa ou verdadeira) é o produto ofertado, a mercadoria desejável, para consumo rápido e repetitivo, porque o prazo de validade é curto.
Este comportamento social não foi invenção da Rede Globo, nem mesmo dos holandeses, criadores deste formato de programa. Esta “sociedade das celebridades de breve fama” foi prenunciada por Andy Warhol na década de 60 com sua célebre frase “um dia todos terão direito a 15 minutos de fama”. Neste cenário qualquer anônimo tem direito à conquista de uma fama passageira que invariavelmente tem como final o retorno ao anonimato. Alguns com algum na conta bancária, mas a maioria “sem nada nos bolsos ou nas mãos”. Triunfo transmutado em fracasso total.
É assim que entendo fracasso. E triunfo (ou vitória). Ambos são máximos em intensidade. Ou se vence, ou se perde. Somos o primeiro ou nada somos. Não há meio triunfo. Nem meio fracasso. Ambos são pontuais e temporais. Na corrida dos cem metros rasos, só foi possível identificar o vencedor pelo photo chart[2]. Houve triunfo porque houve derrotado. Houve vencedor porque houve perdedor. Com ou sem valor, a vitória é celebrada até o inevitável zapping para o próximo canal. Isto não tem qualquer sentido no mundo dos negócios.
O sentimento de fracasso ou triunfo está associado ao fato de que não haverá uma segunda chance, uma segunda oportunidade. A vaga foi preenchida, a corrida terminou, o jogo acabou. Perdeu, perdeu, ganhou, ganhou. Mas está acabado. E o triunfo alcançado, apesar de eterno para o vencedor, é apenas um objetivo a ser superado nas próximas competições. Ou pela próxima enésima edição do BBB.
Atenção Desavisado e Sabichão! Este não é um livro para invejosos da celebridade e desejosos de fama e fortuna. Sonhadores do ganho fácil e sem custo. A estes nada existe aqui que lhes possa interessar. Também não é para sortudos ou superdotados; iluminados ou predestinados; escolhidos pelos deuses; seres especiais, terrenos ou extraterrenos. É um livro para humanos insuficientemente capacitados para a quase totalidade das exigências da sociedade moderna. Seres que sabem caminhar sobre duas patas, mas têm uma certa dificuldade para lidar com celulares. Sabem comer com garfo e faca, mas não têm nenhuma destreza com um mouse e um teclado. Em síntese: homens e mulheres normais.
Quem entra no mundo dos negócios para vencer impingindo derrota, não é empreendedor, é atleta, apostador ou aventureiro. A natureza da empreitada não lhe importa, é apenas meio para a glória ou prazer próprio. Ao jogador profissional de pôquer não se atribui sucesso ou insucesso. Ele ganha ou perde. Ponto. Sua busca é pela admiração alheia. É para provar sua superioridade sobre os demais. O goleador corre para a multidão que o celebra e não para abraçar os companheiros que lhe criaram a circunstância.
Jogadores arriscam tudo e são protagonistas tanto da pior jogada quanto do gol de placa. Empreendedores raramente fracassam porque não jogam o tudo ou nada, apenas correm riscos de modo tão mais controlado quanto mais competentes são.
Talvez, antes de iniciar um empreendimento, Você precise se conhecer mais, descobrir onde estão suas forças e suas fraquezas. De qualquer modo, mesmo que em situações extremas Você se sinta fracassado, o melhor é recorrer ao seu senso de humor, rir de tudo e recomeçar.
Nesse mundo de faz-de-conta que passamos a viver, usamos fracasso como sinônimo de insucesso. Não é. É o que pretendo mostrar no próximo capítulo.
Conselho:
Se você almeja triunfo, vá competir contra. Se você almeja sucesso, vá competir por.



[1] Veja referências no final do livro.
[2] Expressão da língua inglesa usada em corridas de cavalo que indica a fotografia tirada no momento da chegada e que será usada para identificar o cavalo vencedor por vantagem de centímetros.



SUCESSO & INSUCESSO

Ele tentou por dois anos. Trabalhou de sol a sol, de domingo a domingo, de novembro a novembro. Até feriados e dias santos. Mas não deu. O espaço era pouco. Os clientes eram poucos. A renda era pouca.  Os gastos, a insegurança e os concorrentes eram muitos. Desistiu. Início e fim num mesmo novembro. A ironia foi constatar que seu insucesso aumentava as chances de sucesso dos remanescentes.

Se triunfos e fracassos não são próprios do ambiente de negócios, sucessos e insucessos, mais estes que aqueles, estão no cerne do empreendedorismo. Nossa jornada, pessoal ou profissional, é uma seqüência de insucessos interrompida por sucessos eventuais. A maioria do tempo nós somos malsucedidos. Adicionamos diariamente insucessos à nossa história, mas raramente fracassamos. Ainda bem, porque fracassar é tão arrasador que não agüentaríamos muitos fracassos ao longo de um tempo.
Vencer dá direito a uma medalha no peito, mas não o prepara para a próxima prova. O sucesso é objetivo alcançado que não lhe dá prêmio, mas deixa-o melhor consigo mesmo. Ter fracassado é ter perdido, enquanto o insucesso foi a oportunidade de ter aprendido.
Recordo dos primeiros dias, semanas e meses de nossa agência, mas especialmente do primeiro dia. Depois de me despedir do funcionário da Telerj que acabara de instalar a linha telefônica, sentei na única cadeira disponível, olhei para o telefone e me indaguei: “como faço você tocar?”. Em algum momento daqueles primeiros dias, tive uma idéia que me ajudou por muito tempo (ajuda até hoje). À noite, no trajeto para casa, fazia uma revisão do dia e me perguntava se eu tinha agregado algo à nossa capacitação em relação ao dia anterior. Como a maioria das vezes a resposta era positiva, eu curtia uma deliciosa sensação de sucesso. Insucessos existem sempre, mas eles não nos levam para trás, eles nos capacitam a andar mais rápido se refletimos sobre suas causas e os transformamos em conhecimento. Aquele compromisso de realizarmos todo dia alguma coisa, por menor que fosse, em prol do aumento de nossas chances, é que nos dava a certeza de que, algum dia, atingiríamos nossos objetivos.
Com este relato quero dizer que o (in)sucesso diz respeito às tentativas que faço, às metas que traço. Não vencemos, não perdemos, apenas temos êxito, temos sucesso, somos bem-sucedidos, mas à custa de insucessos vividos que nos levaram a rever estratégias e táticas[1]
Fora uns raros escolhidos pelos deuses, ser malsucedido é o único caminho para o indivíduo normal ser bem-sucedido em suas empreitadas. Sem insucessos, não há sucesso, porque o insucesso é tentativa de acerto. E o sucesso não é prêmio, é a justa contrapartida por um serviço bem feito.
Ter sucesso pode influir no insucesso de outro, mas não depende do outro e não objetiva o outro. O sucesso afaga o ego. O triunfo o celebra. O insucesso nos ensina. O fracasso nos derrota.
Seres normais vivenciam insucessos de 33 a 87 vezes por dia segundo uma pesquisa que ainda não fiz. Mas nem preciso fazer. Quem duvida disto? Pense em tudo que dá errado ao longo do seu dia!!! E se o insucesso é comum, presente na vida cotidiana do cidadão, do empreendedor de qualquer tipo, e independente de quanta estrada tenha percorrido, ter insucessos é sua vida. O insucesso é garantido. O sucesso? Possível, mas não é garantido. O insucesso nos incomoda muito, nos causa depressão, por vezes, mas devemos seguir em frente. Se Sabichão tem tendência a se abater por mais de 24 horas com um insucesso, por mais retumbante que seja, provavelmente é um excelente jogador, mas não um bom candidato a empreendedor. Deixe disso e vá procurar coisa melhor.
Divido os insucessos em dois tipos:
  • Insucessos inimagináveis
  • Insucessos evitáveis.
Insucessos inimagináveis têm origem em fatos... inimagináveis, imprevisíveis ou imperceptíveis. Um repentino tsunami. Uma catástrofe. Um sinistro. Uma quebra de safra por falta ou excesso de chuva.
Insucessos evitáveis provêm de situações percebidas, mas ignoradas por Desavisado, ou anunciadas por pessoas a quem Sabichão não tem o menor interesse em dar atenção. O problema parece estar nesta espécie humana de animal. Somos uma caixinha de DNAs combinados sem propósito certo. Tomemos Zé Mané como nosso novo personagem. Um cachorro tem muito maior capacidade de aprender do que o Zé Mané. Coloque um arame eletrificado e depois de dois ou três choques o cachorro não chega mais perto da beira do barranco e assim não corre o risco de cair. Já o Zé Mané... Bem, o Zé Mané acha que se ficar encostando no arame vai se acostumar com o choque. E se acostuma mesmo. Um dia, não percebe o precipício, cai e morre. E o cachorro é que fica com a fama de irracional!!!
O empreendedor vê o sucesso como uma coisa interna. Dele para consigo mesmo. Independente do que pensam os outros. Sucesso, para o empreendedor, não é dinheiro, é o sentimento de satisfação de ter alcançado um objetivo.
Para fechar estas reflexões com uma síntese, diria que, particularmente na arena dos pequenos negócios, não existem gladiadores e leões, apenas trapezistas, acrobatas, equilibristas, todos exibindo suas habilidades ao mesmo tempo, com o único objetivo de ganhar a atenção e o aplauso de parte da platéia.
Conselho:
Faça de seus insucessos seu melhor energético.

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