05, 06 & 07

EMPREGADO & EMPREGADOR

Jack London, que conheci pessoalmente em fevereiro de 2007, foi o pioneiro do comércio eletrônico no Brasil. Enquanto alguns discutiam se a internete ia dar certo, ele fez certo criando a BookNet (inspirado na Amazon norte-americana), não só a primeira e-livraria mas o primeiro sítio de comércio eletrônico de sucesso no Brasil. Em 1999 passou sua audácia nos cobres vendendo-a para o Submarino. E continuou pioneiro ao empreender o Valeu, primeiro sítio de leilão eletrônico. Novamente faturou a audácia e voltou ao mundo real criando o Armazém Digital.

Como já expus, não vejo o ambiente de negócios como um lugar para vencer ou perder, mas para ter sucesso como empreendedor, é preciso ter ousadia. Sem uma dose de audácia, o candidato a empresário vira funcionário mal pago de si mesmo. Se dedicar a uma carreira executiva seria uma opção bem mais rentável.
Tomando por referência os que, como eu, em 1976, usufruíam os benefícios que a estatal empregadora proporcionava, se não tivesse me demitido teria tido uma vida bastante estável (o inverso da que tive). Todos estão muito bem “avôsentados”, condição que ainda vou levar algum tempo para conquistar porque sonhar em ser empresário rico é o mesmo que sonhar em ser um esportista vencedor. É para poucos, muito poucos. A maioria de nós, como competidores, é coadjuvante do espetáculo. Somos os perdedores que valorizam os vencedores. Sem nós as disputas não existiriam. Dos jogadores de futebol, 99% deles tocam a vida procurando dar continuidade a uma carreira em um dos milhares de clubes do Brasil. Defendem seus salários fazendo gols ou impedindo que outros façam. Estou exagerando? É só multiplicar o número de times que participam dos campeonatos estaduais por 22 (titulares e reservas) e Você vai ter um número aproximado. Conte as estrelas do futebol que ganham milhões de euros e brilham nas revistas dos consultórios, e tire suas conclusões.
A proporção entre empresários é a mesma. Quantos bares existem em sua cidade? Agora me diga: quantos bares de sucesso Você pode listar? Ah! Pra Desavisado, dono de botequim não é empresário? Sei, sei! Ok, escolha outra atividade, e faça as contas. Sabichão vai perceber que a curva 80/20 (eu a explico no capítulo CURVA A, B & C), neste ambiente, apresenta um resultado de exceção para justificar a regra. Aqui, a curva é 99 para 1: 99% fazendo o bolo e 1% passando a língua no bigode para lamber o creme.
Estou sendo cruel? Ainda não terminei. Quer ser empresário? Então:
  1. Aceite o fato de que sua família vai ficar em último lugar[2]. Como isto vai ser muito doloroso, Sabichão vai fazer o discurso de que tudo o que faz é para o bem de sua mulher, filhos, pais, cachorro e papagaio.
  2. Não pense que estará em primeiro lugar, pois nem mesmo seu negócio estará. Nos 3 primeiros lugares o Estado: o federal, o estadual e o municipal. Em quarto lugar, todo final de mês, os funcionários à espera da justa remuneração pelo trabalho que já fizeram. A escola, a mercearia e a padaria do seu Manuel? Só depois de zerado o contas a pagar da empresa. Se sobrar.
  3. Carregue sempre um lenço para horas especialmente ruins. Sabichão vai sentir vontade de chorar e pedir por mamãe. Não se envergonhe por isso.
  4. O casamento de Desavisado vai balançar perigosamente. Se a luz vermelha piscar, haja rápido, tire umas férias e leve a turma para um passeio na Disney.
  5. Por mais que lhe previnam, Sabichão vai ao fundo do poço. De repente, depois de alguns anos, vai olhar e perceber que não tem nada, nem mesmo uma casa própria. E não vai entender “o que não aconteceu!?”, já que você trabalhou tanto, se sacrificou tanto...
  6. Desavisado vai querer desistir muitas e muitas vezes. Tantas vezes que até vai acabar      desistindo de desistir. Ou vai pensar em acabar com tudo e retomar uma carreira executiva como funcionário de uma multinacional. Agora é tarde neném, já tomaram seu lugar nessa teta. Eu ignorei isso e provei do gosto amargo do desemprego por um bom tempo.
  7. E depois de tudo, passados os anos, Sabichão vai abrir o jornal e, na coluna social, saber que a ex-modelo “Terezinha das Tantas e Quantas, eleita empresária do ano, está lançando sua nova coleção de biquínis. E vai desconfiar que talvez você é que é um empresário de “merda”.
  8. E se Desavisado alimenta a ilusão de que ser empresário é o caminho para se livrar da dupla PP (Patrão e Pressão), é mesmo um iludido, pois haverá dias em que a cabeça vai parecer querer explodir. Literalmente. Tantas são as pressões, tantos são os patrões a quem devemos satisfação.
Mas no final sempre haverá o reconhecimento de todos como recompensa. Dos conhecidos, esquecidos de sua história, vai ouvir que Você nasceu com a bunda pra lua. É um sortudo. Dos desconhecidos, vai receber um olhar de admiração do tipo “esse é o cara que saiu na capa da revista, quero ser que nem ele”, sem que nenhum deles tenha a menor idéia do quanto Você pagou por aquela recompensa. Dinheiro? Riqueza? Para uns poucos, com certeza. Felicidade? Quem pensa que felicidade está na fortuna ainda não entendeu bem a vida. O Senna (ganhador da mega-sena, assassinado a mando ainda não se sabe de quem) teria algo a lhe dizer se tivessem deixado um celular dentro do caixão.
E não há glamour. Se há, não é para nós. Não é para Desavisado. Não é para Sabichão. Para nós a recompensa é o que sentimos pelo que fazemos. Se puder olhar para trás com orgulho e consciência de ter feito o que lhe foi possível, alegre-se, poucos terão mais que isso.
Empregado ou empregador, não siga uma imagem projetada. Siga suas entranhas. Em qualquer dos casos, vai precisar delas.
Conselho:
Não busque nenhum prazer ou satisfação especial em ser empresário. É uma atividade como qualquer outra. Adequada para poucos, inadequada para a maioria.





[1] É comum a confusão no uso dos termos estratégia e tática. Estratégia é o plano geral, diz respeito a conceitos, princípios e objetivos. Tática é a ação específica, diz respeito à execução.
[2] O consultor Luiz Fernando Garcia conta que Antônio Ermírio de Moraes, presidente do Grupo Votorantim, “durante décadas, manteve a rotina de trabalhar das 7 horas da manhã até a ‘hora que fosse preciso’, o que freqüentemente significava 8 ou 9 horas da noite”. Tais extremos são necessários pontualmente, não o tempo todo.



PRESSÕES INTERNAS & EXTERNAS

Jack London, que conheci pessoalmente em fevereiro de 2007, foi o pioneiro do comércio eletrônico no Brasil. Enquanto alguns discutiam se a internete ia dar certo, ele fez certo criando a BookNet (inspirado na Amazon norte-americana), não só a primeira e-livraria mas o primeiro sítio de comércio eletrônico de sucesso no Brasil. Em 1999 passou sua audácia nos cobres vendendo-a para o Submarino. E continuou pioneiro ao empreender o Valeu, primeiro sítio de leilão eletrônico. Novamente faturou a audácia e voltou ao mundo real criando o Armazém Digital.

Como já expus, não vejo o ambiente de negócios como um lugar para vencer ou perder, mas para ter sucesso como empreendedor, é preciso ter ousadia. Sem uma dose de audácia, o candidato a empresário vira funcionário mal pago de si mesmo. Se dedicar a uma carreira executiva seria uma opção bem mais rentável.
Tomando por referência os que, como eu, em 1976, usufruíam os benefícios que a estatal empregadora proporcionava, se não tivesse me demitido teria tido uma vida bastante estável (o inverso da que tive). Todos estão muito bem “avôsentados”, condição que ainda vou levar algum tempo para conquistar porque sonhar em ser empresário rico é o mesmo que sonhar em ser um esportista vencedor. É para poucos, muito poucos. A maioria de nós, como competidores, é coadjuvante do espetáculo. Somos os perdedores que valorizam os vencedores. Sem nós as disputas não existiriam. Dos jogadores de futebol, 99% deles tocam a vida procurando dar continuidade a uma carreira em um dos milhares de clubes do Brasil. Defendem seus salários fazendo gols ou impedindo que outros façam. Estou exagerando? É só multiplicar o número de times que participam dos campeonatos estaduais por 22 (titulares e reservas) e Você vai ter um número aproximado. Conte as estrelas do futebol que ganham milhões de euros e brilham nas revistas dos consultórios, e tire suas conclusões.
A proporção entre empresários é a mesma. Quantos bares existem em sua cidade? Agora me diga: quantos bares de sucesso Você pode listar? Ah! Pra Desavisado, dono de botequim não é empresário? Sei, sei! Ok, escolha outra atividade, e faça as contas. Sabichão vai perceber que a curva 80/20 (eu a explico no capítulo CURVA A, B & C), neste ambiente, apresenta um resultado de exceção para justificar a regra. Aqui, a curva é 99 para 1: 99% fazendo o bolo e 1% passando a língua no bigode para lamber o creme.
Estou sendo cruel? Ainda não terminei. Quer ser empresário? Então:
  1. Aceite o fato de que sua família vai ficar em último lugar[2]. Como isto vai ser muito doloroso, Sabichão vai fazer o discurso de que tudo o que faz é para o bem de sua mulher, filhos, pais, cachorro e papagaio.
  2. Não pense que estará em primeiro lugar, pois nem mesmo seu negócio estará. Nos 3 primeiros lugares o Estado: o federal, o estadual e o municipal. Em quarto lugar, todo final de mês, os funcionários à espera da justa remuneração pelo trabalho que já fizeram. A escola, a mercearia e a padaria do seu Manuel? Só depois de zerado o contas a pagar da empresa. Se sobrar.
  3. Carregue sempre um lenço para horas especialmente ruins. Sabichão vai sentir vontade de chorar e pedir por mamãe. Não se envergonhe por isso.
  4. O casamento de Desavisado vai balançar perigosamente. Se a luz vermelha piscar, haja rápido, tire umas férias e leve a turma para um passeio na Disney.
  5. Por mais que lhe previnam, Sabichão vai ao fundo do poço. De repente, depois de alguns anos, vai olhar e perceber que não tem nada, nem mesmo uma casa própria. E não vai entender “o que não aconteceu!?”, já que você trabalhou tanto, se sacrificou tanto...
  6. Desavisado vai querer desistir muitas e muitas vezes. Tantas vezes que até vai acabar      desistindo de desistir. Ou vai pensar em acabar com tudo e retomar uma carreira executiva como funcionário de uma multinacional. Agora é tarde neném, já tomaram seu lugar nessa teta. Eu ignorei isso e provei do gosto amargo do desemprego por um bom tempo.
  7. E depois de tudo, passados os anos, Sabichão vai abrir o jornal e, na coluna social, saber que a ex-modelo “Terezinha das Tantas e Quantas, eleita empresária do ano, está lançando sua nova coleção de biquínis. E vai desconfiar que talvez você é que é um empresário de “merda”.
  8. E se Desavisado alimenta a ilusão de que ser empresário é o caminho para se livrar da dupla PP (Patrão e Pressão), é mesmo um iludido, pois haverá dias em que a cabeça vai parecer querer explodir. Literalmente. Tantas são as pressões, tantos são os patrões a quem devemos satisfação.
Mas no final sempre haverá o reconhecimento de todos como recompensa. Dos conhecidos, esquecidos de sua história, vai ouvir que Você nasceu com a bunda pra lua. É um sortudo. Dos desconhecidos, vai receber um olhar de admiração do tipo “esse é o cara que saiu na capa da revista, quero ser que nem ele”, sem que nenhum deles tenha a menor idéia do quanto Você pagou por aquela recompensa. Dinheiro? Riqueza? Para uns poucos, com certeza. Felicidade? Quem pensa que felicidade está na fortuna ainda não entendeu bem a vida. O Senna (ganhador da mega-sena, assassinado a mando ainda não se sabe de quem) teria algo a lhe dizer se tivessem deixado um celular dentro do caixão.
E não há glamour. Se há, não é para nós. Não é para Desavisado. Não é para Sabichão. Para nós a recompensa é o que sentimos pelo que fazemos. Se puder olhar para trás com orgulho e consciência de ter feito o que lhe foi possível, alegre-se, poucos terão mais que isso.
Empregado ou empregador, não siga uma imagem projetada. Siga suas entranhas. Em qualquer dos casos, vai precisar delas.
Conselho:
Não busque nenhum prazer ou satisfação especial em ser empresário. É uma atividade como qualquer outra. Adequada para poucos, inadequada para a maioria.





[1] É comum a confusão no uso dos termos estratégia e tática. Estratégia é o plano geral, diz respeito a conceitos, princípios e objetivos. Tática é a ação específica, diz respeito à execução.
[2] O consultor Luiz Fernando Garcia conta que Antônio Ermírio de Moraes, presidente do Grupo Votorantim, “durante décadas, manteve a rotina de trabalhar das 7 horas da manhã até a ‘hora que fosse preciso’, o que freqüentemente significava 8 ou 9 horas da noite”. Tais extremos são necessários pontualmente, não o tempo todo.



ESCOLHA & RENÚNCIA


Trabalhadora que só, dessas pessoas que a gente admira pela capacidade infinita de fazer o que tem que ser feito sem se lamuriar. Fez dezenas de cursos e durante alguns anos, trabalhou feito formiga como “bufeteira”. O pouco dinheiro que sobrava, investia na compra de equipamentos (talheres, copos, pratos, apetrechos diversos). Hoje, o telefone não para o dia todo, mas com a saúde fragilizada, atuando num mercado comoditizado, onde preço tem alto peso na decisão do cliente, concluiu que o melhor é ser apenas organizadora, terceirizando todos os serviços, inclusive o aluguel dos equipamentos e utensílios. Mas, e agora?, o que fazer com todo aquele investimento ocupando vários cômodos da casa?”Dá pena”, diz ela, revelando que lhe falta coragem para fazer a escolha necessária.
Tomar decisão é fazer uma escolha. E uma escolha, qualquer escolha, implica em riscos, e o ser humano não gosta disso. Nós somos inseguros por gênese, indecisos como conseqüência. A insegurança nos protege e nos mantém na zona de conforto. A maioria de nós, quando se arrisca, o faz sem saber. Se soubesse, não se arriscava. A ignorância é acolhedora. O saber, assustador.
Dessa Desavisado não escapa. Fez uma escolha? Então Você acaba de renunciar a várias outras possibilidades. Poucas identificáveis, uma infinidade ignoradas, pois só seriam conhecidas se outras tivessem sido as escolhas.
Em negócios, a renúncia significa que, feita uma escolha, Sabichão está abrindo mão de qualquer alternativa de modo definitivo porque não há volta a um mesmo estado de circunstâncias que permita fazer uma outra escolha. E mais, qualquer que tenha sido o negócio que Desavisado escolheu, depois de iniciado estará preso a ele. Preso porque ninguém abandona um barco antes de se mostrar impossível salvá-lo e, isso, infelizmente para o comandante, só se demonstra depois que ele afunda. Preso porque os recursos financeiros acabaram. Preso porque as condições que permitiam a escolha de um outro caminho não existem mais.
Ter ou não ter a habilidade de fazer escolhas é a premissa para nos dividir na vida profissional em duas categorias: a dos líderes e a dos seguidores. O que estou chamando de habilidade é a capacidade inata de não ter dúvida, não ter medo do desconhecido, não perder o sono por decisão tomada e de tratar as conseqüências como necessidade de tomar outras decisões. E isso não se aprende lendo livro, revista ou em sala de aula. Mas como entre dois opostos sempre há uma zona nebulosa onde é difícil achar qual o oposto que predomina, é possível aprender a substituir suas naturais reações, seus impulsos, seus instintos, por uma atitude de mais controle e espera menos ansiosa.
Renunciamos a muitas coisas e por muito tempo, porque nos mantemos em contínuo processo de fazer vingar uma ou duas escolhas feitas em um passado distante. Quando escolhemos manter um casamento, estamos nos comprometendo, no longo prazo, em renunciar às oportunidades de desfazê-lo. É assim também quando se escolhe montar um próprio negócio. Se Sabichão não tiver esta consciência, não vai muito longe. Qualquer infortúnio, qualquer mês de vendas baixas, qualquer pacote econômico, qualquer carro novo de seu amigo executivo bem-empregado, vai lhe tirar do sério, abalar suas convicções e reforçar suas frustrações.
Conselho:
Acostume-se, fazer escolhas é a tarefa mais constante na atividade de empreender.





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